segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Bem vindo à Primavera

No dia 23 de setembro a duração do dia é exatamente igual à duração da noite no hemisfério sul da Terra. Esse fenômeno demarca o início da primavera para a porção do Mundo abaixo da linha do Equador. A palavra primavera vem do latim primo vere que significa “no começo do verão”, adequadamente interpretada pelos poetas como “época primeira”, “aurora”.

Ela é a estação representativa do novo, do jovem. Talvez seja por isso que alguns movimentos de contestação política têm recebido esse nome ao longo dos tempos. Vamos então a uma breve história dessas primaveras.

Em 1848 uma série de revoltas ocorreu em nações da Europa Central e Oriental. Elas surgiram da insatisfação do povo com o fracasso dos regimes governamentais da época (monarquias) em realizar reformas políticas e econômicas, além da falta de representatividade da classe média junto ao Estado. Esse conjunto de movimentos ficou conhecido como Revoluções de 1848 ou Primavera dos Povos.

Cento e vinte anos depois, em 1968, na já extinta Tchecoslováquia, houve uma tentativa de humanizar o perverso e severo socialismo através de mudanças que concediam aumento de algumas liberdades, como a de imprensa, por exemplo. Desta vez, entretanto, as propostas vieram dos governantes, mas desagradavam aos líderes da União Soviética em Moscou. Esses determinaram a invasão da capital da Tchecoslováquia, Praga. Os habitantes da cidade fizeram uma resistência pacífica, muito bem organizada graças à utilização de rádios amadores. O movimento, contudo, acabou sendo eliminado, mas o ato de coragem das pessoas envolvidas ficou conhecido como a Primavera de Praga.

No ano de 1989, na República Popular da China, estudantes e trabalhadores protestaram contra o Partido Comunista da China e sua política autoritária, que construiu um país fechado onde praticamente não havia liberdade. A imagem de um estudante desafiando um tanque de guerra na Praça da Paz Celestial tornou-se um dos maiores símbolos da denominada Primavera de Pequim.

Recentemente, em alguns países do Oriente Médio e norte da África, o descontentamento com a situação social e econômica gerada por regimes incompetentes que insistiam em permanecer no poder, fez como que eclodissem protestos de médio e grande porte. No Egito, Tunísia e Líbia, esses protestos viraram revoluções (houve a queda dos seus chefes de Estado). A esse fenômeno, potencializado pelo uso da internet, deu-se o nome de Primavera Árabe.

Protestos e demonstrações de insatisfação fazem parte da história do Mundo, assim como faz parte de sua natureza girar fazendo como que os dias e noites se sucedam. Existe uma equação simples que explica o nascimento dessas manifestações de descontentamento e ela é a seguinte: insatisfação social + falta de representação de determinados grupos sociais no poder + insucesso econômico e financeiro = revolta.

Muitas das características de todas as Primaveras estão presentes no atual conjunto de circunstâncias da nossa cidade (na verdade já estão há bastante tempo), e eu não me refiro apenas ao fato de estarmos na “primavera”. A nós (população) cabe fazermos a revolução, e isso depende de ferramentas potentes como o voto criterioso, o protesto dirigido e a fiscalização imparcial. Acredito que falar sobre política e história também pode ajudar.

Égua Astronauta