sábado, 25 de fevereiro de 2012

Normalidade: uma árvore de frutos conceitos

Que aja normalidade! pois os homens ainda caminham tomando os limites do seu campo de visão pelos limites do mundo, as faces todas se embranquecem para termos um olhar uniforme, os passos e pegadas de nossos pés cabem dentro dos limites sociais e os que são capazes apenas do usual admitem o extraordinário somente quando este o toca. 

A normalidade vem transfigurada como uma tela bem pintada, os contornos são bem traçados, as cores bem distribuídas em perfeita harmonia. É como a rotina de um ‘homem bom’, que não se excede em palavras, exala pouco suor, passa a ferro suas expressões faciais e demonstrações práticas quando é tomado por sentimentos de cólera, de inutilidade, de desespero ou de profunda paixão. Aquele que dorme e acorda na mesma posição, tem paladar prático e repetitivo, no campo afetivo é feito de gestos curtos e bem ensaiados. Ao falar não eleva a voz o que conseqüentemente deixa a tarefa do entendimento para quem recebe sua mensagem, e este vagaroso como é muitas vezes só é concluído quando o homem bom já se foi.     

Em maneiras polidas pode-se dizer muitas asneiras sem perigo imediato, por detrás de ventos brandos há uma tempestade que surpreende. A questão não é deixar o caos fluir, mas avaliar até que ponto essa normalidade mata sonhos, seca desejos e limita relações. Até que ponto manter as coisas na normalidade nos impulsiona a olhar só pra frente e não ver que olhar para o lado também pode ser benefício porque tudo o que vem somado pelos lados, amplia pra frente e dá em cada estação o seu próprio fruto. 

Normalidade absoluta não clama e também não manda embora, no fim de tarde não enxerga a cama vazia, o café frio se acomoda no estômago, o horizonte é só uma reta e a multidão são minúsculas cabeças onde a sua se perde a deriva. Uma iniciativa quando fugida da normalidade habitual é um fruto conceito que dispensa gêneros e padrões, traz a glória ainda que tardia - duradoura, porque todo fruto delicioso amadurece lentamente e toda atitude inovadora ainda que passe por tempestades, floresce e difere. 

Flávia Sant’anna Costa