sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Suicídio nos Pintos Negreiros: 20 Mortes

Quantas mortes, minha gente! E sempre suicídio. Morreu outra pessoa, recentemente, o senhor Genésio da Pedreira (o que escreve aqui é outro Genésio): não resistiu aos estragos do veneno ingerido. É um “caso particular”, disseram, para descartar efeitos de contaminação por agrotóxicos. Mas acho que não tem nada disso: deve ser efeito de veneno mesmo. Depois de contaminado, isso mata hoje ou daqui a 10, 20 anos – mas mata. Uns resistem mais do que outros. 

Pedi ao Chico, meu irmão, e aos amigos dos Pintos Negreiros para tentar fazer uma lista dos casos. Eles conhecem o pessoal todo. Hoje me mandaram o resultado. Vejam os nomes dos que cometeram suicídio: 

  1 - Mário Caetano 
  2 - Sô Crispim 
  3 - Zé Moizés, 
  4 - Zé Marques 
  5 - Toninho do Luiz Carrinho 
  6 - Zé Carrinho 
  7 - Bosquinho 
  8 - Jucima do Anízio 
  9 - Zé Caneca (pai) 
10 - Darci do Luiz Carrinho 
11 - Lílian do Tutu 
12 - Zé Marques 
13 - Zezinho Tatu 
14 - Maria de Jesuis 
15 - Alexandra do Mário (13 anos) 
16 - Pilão (filho do Sr. Júlio) 
17 - Negão do Pêra 
18 - Nenê do José Divino 
19 - Paranaense 
20 - Genésio (da Pedreira) 

A lista ainda não está completa. Estatisticamente, o resultado é de abismar. O número é grande, para uma população rural tão pequena. Trata-se de um caso para preocupação do pessoal da saúde. É um caso a ser levado aos pesquisadores de universidades. Comuniquem isso à UFMG, à USP. 

E sempre tem uma constante nesses casos: depressão, fixação e uma outra coisa espantosa: muitos morrem de um jeito que a gente não compreende o enforcamento, pois o fazem quase que sentados. Não se trata de um enforcamento daqueles em que o sujeito não tem como voltar atrás depois de se soltar, dependurado no vazio. 

Muitos homens e mulheres se foram, do mesmo jeito, nesses tempos atrás. Não sei se tem a ver, mesmo, só com agrotóxicos. Não sei se o modo de vida pesa nisso para levar à depressão. Não sabemos se o álcool conta mais ou combinado com isso tudo. Não sei se falta perspectiva de vida. Não sei se as relações homem-mulher são decepcionantes e suficientes para isso. E ninguém sabe – embora afirmem – que pode ser efeito de altitude. 

Sem saber nada, não se pode tratar disso, prevenir. O serviço de saúde da prefeitura de Maria da Fé precisa levar esse caso para estudo por centros de pesquisa. Eles existem para isso, para tentar dar respostas aos problemas surgidos na vida dos cidadãos e, assim, instruí-los. Está aí um serviço nobre para o prefeito, para os vereadores prestarem à comunidade: entrem em contato com as universidades. Já escrevi sobre isso no dia 27 setembro deste ano. Se vocês, até agora, nada fizeram nesse sentido – são irresponsáveis. 

Genésio Fernandes 
Pintura e Texto