terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Mudar o Mundo


Certa vez perguntaram à Margaret Thatcher, ex-Primeira Ministra do Reino Unido, se ela achava que uma pessoa sozinha seria capaz de mudar o Mundo. Ela respondeu o seguinte: “Mas não é isso o que sempre acontece?”. Pessoas com capacidade de realização, visão de futuro e competência não são raras, mas no exercício do poder público são incomuns. Quando elas aparecem fica óbvio seu talento, graças principalmente, a uma característica mercante: a capacidade de chamar a responsabilidade para si.

Apesar de termos exemplos recentes de pessoas desse tipo, eu gosto sempre de citar Juscelino Kubistchek. Passou pelos cargos de Deputado Federal, Prefeito de Belo Horizonte, Governador de Minas e Presidente do Brasil sempre como um político exímio e grande estadista. Como Presidente mostrou-se competente não apenas pela forma inata de governar, mas também por se cercar de pessoas que encontrariam ao lado dele a oportunidade para, exercendo suas funções, contribuir de forma plena com o país.

É difícil governar a esmo, talvez seja por isso que JK partiu do princípio e, como um bom inglês ou norte americano faria, elencou as principais limitações ao desenvolvimento do Brasil, a fim de orientar-se buscando a solução desses problemas. Daí surgiu o Plano de Metas (alimentação, energia, transportes, indústria de base e a meta síntese: Brasília). Os resultados foram como previa o lema: “cinquenta anos em cinco”. Por governar de forma planejada, JK permitiu, entre inúmeras outras coisas, o surgimento da indústria automobilística nacional e a criação da cidade que por muitos anos foi considerada uma das mais bem planejadas do mundo: Brasília.

Lúcio Costa criou no desenho do avião uma cidade divida em super-quadras, prédios erguidos sobre pilotis e um sistema de vias que se sustenta no “eixão”, uma pista de 3 faixas em cada sentido com velocidade limitada de 80 Km/h sem semáforos, quebra-molas ou qualquer outro impedimento, e que liga de forma rápida e prática as Asas da cidade. Oscar Niemayer, por sua vez, revolucionou a arquitetura e, entre outras coisas, reinventou o desenho das colunas, superando uma estagnação de mais de 3 mil anos nessa área.

Não me parece que o sucesso de homens como JK em governar seja um segredo. Algumas características claramente contribuem o bom exercício da arte e da ciência de governar: (1) capacidade de “chamar a responsabilidade” para si, (2) comprometimento com a função exercida, (3) planejamento, (4) estratégias baseadas em metas e, em especial, (5) cercar-se das pessoas certas.

Em Maria da Fé isso está longe de acontecer. A escolha de pessoas para cargos que dependem de indicação, por exemplo, muitas vezes não respeita critérios técnicos, o que torna difícil que as principais áreas nas quais é dividida a administração sejam conduzidas de forma profissional. Pessoas que não têm o que se chama de “mérito” ficam responsáveis por setores importantes da máquina administrativa.

Isso não causa apenas atraso, má administração dos recursos e pouca eficiência. Causa também destruição, dor, sofrimento e frustração. O que aconteceu com as margens do Ribeirão Cambuí exemplifica bem isso. As alterações no subsolo causadas por uma sucessão de erros em todo o transcorrer da obra, inclusive a falta de atuação imediata logo após o aparecimento dos primeiros pontos de rebaixamento do solo, culminaram com danos à estrutura das casas próximas ao rio. Algumas estão sob risco de serem engolidas pelas erosões/buracos que surgiram. Os moradores, cidadãos de bem, encontram-se esquecidos, isolados e sob risco de perderem o patrimônio fruto de trabalho árduo, precisando lutar sozinhos contra um problema “sem responsáveis”.

Sinto falta em nossa Cidade de governantes revolucionários, estadistas competentes e pragmáticos. As novas ruas, calçadas nas administrações das últimas décadas sequer possuem bueiros, que dirá sistemas eficazes de drenagem das águas pluviais? Os pré-candidatos a prefeito e vereador (conhecidos nos bastidores) são todos comprovadamente incapazes de pensar e agir como exigem as situações, como exige o século XXI. Sinto falta de muita coisa em Maria da Fé, principalmente sinto falta de alguém capaz de mudar o Mundo.

Égua Astronauta