segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ensaio Sobre a Loucura

Por muito tempo me vi buscando a definição do que era o normal. Infelizmente descobri que a normalidade não possui uma definição, mas sim um conceito. Ao contrário das definições, os conceitos não são verdades absolutas e, portanto, estão sujeitos a mudanças e interpretações variáveis. No ambiente científico, o normal é tido como a média ± 2 desvios padrões e isso é o que eu uso para me orientar.

Outro fenômeno interessante, e que se contrapõe à normalidade, é a loucura. Existem casos clássicos e evidentes, os quais são manifestos por psicose, paranóia e alucinações. Mas há também uma loucura persistente, menos evidente e que não necessariamente é individual, podendo ser coletiva. Ela tem conseqüências sociais mais sérias porque é uma doença importante, porém difícil de ser separada do que muitos entendem como normal.

Alguns historiadores atribuem a queda do Império Romano à intoxicação populacional por chumbo, metal pesado empregado nos sistemas de encanamento, utensílios de cozinha e nos vasos que concentravam o suco de uva na produção do vinho. Antes de se fixar nos ossos, o chumbo se deposita no fígado, rins e cérebro. O acometimento desse último pode causar a ocorrência de alguns dos sintomas da loucura. O estado mental alterado dos governantes e da população teria então sido o início de uma série de eventos que causariam a queda do Império.

Se analisarmos bem, existem evidências que justificam essa hipótese. Quando o Império Romano e a própria Roma começaram a sofrer sucessivos ataques que prenunciavam o fim, os romanos passaram a demonstrar uma noção alterada sobre o futuro. O que aconteceu foi que cada indivíduo valorizava apenas o presente e, como conseqüência, explorava-o ao máximo. Daí surgiu a expressão Carpe Dien ou “colha o dia”.

E não é isso o que acontece na sociedade atual? As pessoas não se preocupam como o coletivo, não procuram contribuir para que sejam construídas obras e tomadas iniciativas que beneficiem as pessoas que viverão além do tempo presente. Os políticos, por sua vez, tentam explorar ao máximo as oportunidades, seja por ganância, seja puramente com o objetivo de obter realização pessoal por meio do poder, exercendo-o em benefício próprio.

Há sintomas e sinais de loucura permeando os discursos nos plenários de todo o país. As justificativas para a falta de compromisso com o bem comum estão cheias de evidências de neuroses, delírios persecutórios, realidade paralela e isolamento social. Existe também, ainda dentro da classificação das loucuras, a síndrome do politiqueiro. Os representantes do poder executivo ou legislativo acometidos por esse mal apresentam os seguintes sinais e sintomas: (1) saúdam calorosamente as pessoas, (2) fazem perguntas estratégicas a fim de demonstrar afetividade e interesse, (3) dedicam elogios premeditados, (4) despedem-se rapidamente (já andando) deixando a perspectiva da ocorrência de encontros futuros mais duradouros para conversar melhor sobre o assunto iniciado (o que geralmente não acontece) e (5) acreditam verdadeiramente que estão fazendo um bom trabalho.

A oposição, por outro lado, também tem sua dose de loucura. Orienta seus atos buscando reafirmar a superioridade de seus correligionários e, disfarçados de relicários de justiça e honestidade, estão na verdade fazendo campanha política para seus patrões temporariamente fora do poder. Acredito verdadeiramente que a orientação política fundamentalista e o próprio apoio a outros candidatos não é prudente e indica algum grau de insanidade. Basta lembrar o que Deus tem a dizer sobre o tema: “Maldito o homem que confia no homem”.

Contudo, e a despeito de não ser possível que uma pessoa diagnostique sua própria loucura, não posso deixar de atentar para o fato de que aqueles que criticam e tentam contribuir para uma discussão mais sóbria da conduta de prefeitos e vereadores também não estão isentos de sua parcela de loucura. Não podemos nos privar da autocrítica. Tudo que escrevemos da atual administração de Maria da Fé não deixa de privilegiar e beneficiar os oportunistas que a seu tempo já ocuparam os cargos públicos da nossa cidade e hoje são como hienas à espreita. Mas se serve de consolo, eles também são loucos, só que nesse caso há um grau de periculosidade maior, que advém do fato de (alguns) terem traços de personalidade típicos dos manipuladores, como a inteligência verbal e a ausência de sentimentos, inclusive o de culpa.

Falar sobre política não era para ser loucura, mas atualmente é. Será que nossas iniciativas serão responsáveis por alguma mudança? Será que tudo isso é um dilema, isto é, uma premissa cujos termos conduzem à mesma conseqüência? A respeito das coisas que fazemos sobre a face da Terra, não tenho uma definição, mas faço uso do seguinte conceito escrito em forma de poema por Guimarães Rosa “Quem nos leva é a vida e nessa dura lida não sabemos aonde ir. Um passarinho que faz seu ninho tem mãos a medir”?

Égua Astronauta