terça-feira, 30 de agosto de 2011

Parabéns aos professores que não aderiram à greve! (Renato Moraes)

Estive pensando hoje, depois de entrar na terceira semana de greve, o quanto poderia ser legítimo estar participando de uma greve onde só tenho uma companheira... a Mariza. 

Por mais que seja uma faísca diante de uma escuridão imensa, essa faísca incomoda... e como incomoda. De várias maneiras, pois mexe com ideal de quem acha que faz o bem para todos (e nem sabe se de fato esta fazendo), mexe também com aquele que espera que as coisas aconteçam para saber como vai lutar para conseguir seus direitos depois, não pela luta em si, mas provavelmente pela passividade, que deve ser torturante (cá entre nós).

Imagine não saber o que vai acontecer de verdade e ainda estar esperando de boca aberta a oportunidade de ganhar as migalhas que caem da mesa... Um estado democrático é assim, cada um faz o que quer, quando quer onde quer e como quer. Mas em determinadas situações, onde a pressão moral nos envia direto pra boca do leão, isso não consegue se aplicar naturalmente. Tenso isso! A nossa moral interior nos impele até mesmo a sermos grosseiros, violentos, a buscar cumplicidade no que há de pior dentro da gente: o egoísmo. Mas isso só quando o nosso senso de civilidade e a nossa coragem não são suficientemente fortes para combatê-lo.


A greve dos professores de MG já completa quase 85 dias, nada de manifestação do governo favorável ao pífio piso salarial pleiteado pela categoria. Nenhum professor está de greve para destruir carreira política de ninguém, nenhum professor está de greve para poder jogar a culpa no governo sobre os protestos que receberá pelo não pagamento de suas contas, nenhum professor esta querendo destruir o futuro de nenhum jovem quando entra em greve, e tão pouco quer desestruturar o funcionamento de uma instituição incrível que é a escola, mas o professor quando entra em greve é porque ele ACREDITA que pode mudar o seu destino. 

Ora, se um padeiro não faz um bom pão, as pessoas correm a comprar pão em outra padaria, se isso acontecer o padeiro perde seu emprego. Se um pedreiro não faz uma boa casa, ela cai, ou então se desmancha e faz uma nova casa com outro pedreiro, e provavelmente o pedreiro também perderá seu emprego. Um professor quando não dá uma boa aula, pode até mesmo deformar o caráter de alguém, provoca danos imensuráveis, capazes de destruir a vida de uma pessoa, principalmente aquela na fase de formação de caráter e de aprendizado. Nesse caso, meus amigos, o professor pode perder seu emprego, mas nada poderá reparar com sucesso o estrago provocado por ele na vida de uma criança, de um jovem. Nem outro professor, nem outra escola. 

O processo de formação de um ser humano é único, é lindo, é como a forja lenta no fogo, bem devagar... vocês sabem disso! Por isso que essa luta, essa manifestação de liberdade, de direito e de cidadania precisa ser compreendida, mas do que isso, precisa ser APOIADA POR TODOS AQUELES QUE ESTÃO ENVOLVIDOS, DIRETA E INDIRETAMENTE NO PROCESSO. Mas o problema maior meus amigos, é que por trás desse ser humano professor existe também um ser humano que, despido do título de mestre, é fraco, sujeito aos apelos do mundo, do dinheiro, que sofre da “síndrome do medo de ficar devendo na praça nem que seja por um motivo bravo e justo” mas que, inevitavelmente é um ser humano, e devemos respeito a ele por isso.

Talvez, como disse o excepcional Senador Cristiovam Buarque, pagaremos a conta, no futuro, da fatura dessa paralisação, pois um processo de educação não pode ser considerado como a obra de um prédio, que depois de parada por dez anos, basta voltar e encaixar o tijolo no mesmo lugar e dar continuidade a obra. 

No processo de educação teremos que começar de novo, do zero, construir novamente o conhecimento e o preço disso será cobrado da sociedade no futuro, numa fatura muito cara. Talvez até seja o caso de federalizar os professores, porque daí não teremos mesmo que enfrentar esses desmandos de governadores com ego colossal, querendo mandar no destino e no crescimento do país visando apenas o seu próprio prestígio em detrimento daqueles que realmente impulsionam a nação.

Não quero criticar quem não entrou em greve... eu mesmo vacilei um pouco e demorei a entrar, mas gostaria de ver aquele movimento lindo do ano passado, onde TODOS aderiram e até ficaram indignados com os desmandos do governo. Foi único, legítimo e o melhor de tudo, não me fez sentir mal ao ouvir nosso governador cinicamente desejar, nos meios de comunicação, para quem quisesse ouvir, “parabéns aos professores que não aderiram à greve”. Eu, meu amigos, tô fora!

Profº. Renato Moraes