segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Verdadeiro Governante (Fé e Sabedoria)


Integra o Velho Testamento da Bíblia o Livro de Daniel, profeta judeu cativo na Babilônia. São admiráveis as várias estórias de fé inabalável em Deus. Mas as interpretações dos sonhos do rei babilônico Nabucodonosor me entusiasmaram bastante por demonstrarem a precisão profética de Daniel.

A estória da interpretação do primeiro sonho é a seguinte. No segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor começou a ser atormentado por sonhos. Desejando entender seu significado, ele ordenou, então, que fossem chamados os sacerdotes, magos, conjuradores e feiticeiros do reino para que contassem a ele o sonho e sua interpretação. Eles, por sua vez, pediram ao rei que lhes contasse o sonho para que pudessem interpretá-lo. Acontece que o próprio Nabucodonosor não se lembrava de seu sonho e, percebendo a artimanha dos sacerdotes, magos e feiticeiros para arquitetar uma mentira, decretou que todos os sábios da babilônia fossem mortos.

Foi então que Daniel, junto de seus amigos Hananias, Misael e Azarias solicitaram a misericórdia de Deus para que eles também não fossem destruídos. Deus, numa visão noturna, revela então o sonho e sua interpretação a Daniel, que o faz saber a Nabucodonosor, conquistando sua admiração.

No sonho erguia-se diante do rei da Babilônia uma estátua com uma cabeça de ouro, peitos e braços de prata, ventre e coxas de cobre, pernas de ferro e pés de ferro misturado com argila. De acordo com a interpretação, as partes da estátua representariam os reinos humanos que se formariam sobre a face da terra até que se estabelecesse um reino definitivo, o reino de Deus, iniciado por Jesus Cristo.

Segundo os estudiosos da Bíblia, a cabeça de ouro representaria a Babilônia, o peito e os braços de prata, o Império Medo-Persa, o ventre e as coxas de cobre, o Império Macedônico, e as pernas de ferro com pés de ferro e argila o Império Romano. Este último descrito assim, pois era forte como o ferro, mas nunca conseguiu formar uma nação única, coesa. Além disso, ele seria o último império dos homens dado o fato de que foi nele que se iniciou o Reino de Deus com a vinda de Jesus, a pedra que esmiuçou o ouro, a prata, o cobre, o ferro e a argila no sono de Nabucodonosor.

A mensagem desse trecho do Livro de Daniel é a de que Deus domina nos reinos dos homens. Ainda que o homem seja livre para escolher, é Deus quem decreta o início e o fim dos impérios, é ele quem coroa e destrona os reis. O próprio Deus, no decorrer da estória, se encarregou de mostrar a Nabucodonosor “que o Altíssimo é governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser” (Daniel 4:32).

Por que se sucederam reis bons e reis déspotas? Por que não apenas brotaram “videiras boas”, mas também “videiras de uva brava”? Quem pode esclarecer os desígnios do Todo Poderoso? Quem pode chamar de bom ou mal aquilo que faz parte do mistério profundo?

Em Maria da Fé manteve-se no poder o mesmo prefeito que nós considerávamos que fizera um primeiro mandato aquém das expectativas. Mesmo com um índice de rejeição alto, o número de pessoas que acreditavam ser ele a melhor opção foi capaz de mantê-lo na prefeitura. Essa parte da população que não partilha da nossa opinião está errada? Estamos nós errados? Quem poderá responder a essas perguntas?

De minha parte posso dizer que ficou claro que o desejo de um município que invista no desenvolvimento sustentável, que se empenhe em políticas ambientais, que modernize sua infraestrutura, que incentive a agricultura de ponta, que crie empregos diretos não é um desejo comum a todos. Parece-me que o sistema de coleta de lixo inadequado já há algumas décadas, o rio cristalino transformado em aqueduto de esgoto e a favelização de alguns bairros realmente não incomodam tanto quanto pensei que pudessem incomodar.

Ainda há pessoas (no século XXI) que defendem que as estradas rurais tenham manutenção com cascalho, e não com projetos de pavimentação definitivos e sistemas de escoamento apropriado de águas pluviais. Não entendem que a tecnologia na maioria das vezes é mais barata que a falta de tecnologia. Que estradas precárias são entraves ao desenvolvimento dos bairros rurais.

Insisto em me perguntar: quando um prefeito no nosso município se preocupará com o nível de escolaridade (e não apenas o índice de alfabetização) dos cidadãos? Quando se preocuparão os vereadores cuidar para que nas escolas não seja ensinada apenas educação ambiental ou sexual, mas também educação financeira. Quando aceitarão que isso não é teoria, mas sim um conjunto de soluções práticas para o atraso crônico do nosso município?

Respeito a opinião da maioria, a final isso é democracia. Contudo, faço a observação de que talvez não seja a democracia o melhor sistema de escolha de representantes. Particularmente, acho que a “meritocracia” seria mais adequada, ou seja, seria eleito governante aquele que comprovadamente se mostrasse mais competente, aquele que tivesse mérito. Na verdade, não é impossível conciliar democracia e meritocracia. Associar essas duas coisas é o que muitos de nós tentamos fazer, mas nem sempre esse “muitos” representa a “maioria”.

Sempre reflito se o atual momento de Maria da Fé representa sua “cabeça de ouro” ou seus “pés de ferro misturado com argila”. De fato minha conclusão não é tão difícil de deduzir. Mas ainda não acho que seja o momento de perder as esperanças. Continuo a acreditar que o caminho para um estado de bem estar social não é difícil, basta pautar as ações públicas na resolução dos problemas sociais de nossa cidade. Se não for agora, isso certamente ocorrerá em outro momento.

Voltando a citar o Livro de Daniel, ele mesmo alerta Nabucodonosor sobre o fato de seus dias como rei terem um número finito e que a misericórdia para com os pobres poderia fazer com que sua prosperidade se prolongasse (Daniel 4:27). Assim, fica a dica para nossos governantes de como resolver problemas sociais e investir nas pessoas é importante.


Jardins Suspensos da Babilônia (Martin Heemskerck)