segunda-feira, 9 de abril de 2012

Considerações externas sobre o 2º Festival Gastronômico de Maria da Fé

Após o fim do 2º Festival Gastronômico na cidade de Maria da Fé, podemos discutir aspectos a seu respeito, deixando claro, antes de qualquer coisa, que este texto está livre de qualquer parcialidade e ligação com quaisquer setores envolvidos direta e indiretamente e mesmo com os demais integrantes deste espaço virtual.


I – A DATA:

Óbvio e notório que este foi o primeiro ponto de polêmica e discussão, já que de um lado estavam pessoas preocupadas com suas crenças e conceitos e de outro, pessoas querendo demonstrar que de maneira alguma os 2 eventos (Semana Santa e Festival) poderiam atrapalhar-se mutuamente. (Obs.: Excluo dessa discussão o RADICALISMO presente na opinião de algumas pessoas de ambas as partes).

O que pôde-se concluir é que de uma certa forma ambos os eventos aconteceram simultaneamente de maneira satisfatória, destacando o respeito em deixar o som “mais baixo” durante os acontecimentos da Sexta Feira Santa e também os horários que permitiram que todos que quisessem participassem dos 2 acontecimentos.

Claro que há que destacar-se alguns pontos negativos, como por exemplo as procissões não poderem ocorrer mais no centro da cidade (coisa que independente do catolicismo ou não, deve ser considerada um traço cultural importante no município desde o passado), porém, são coisas que certamente também podem ser “conversadas” para os próximos anos.

Também é importante destacar que a ideia de alterar a data com a “simples” explicação de que o próximo feriado também tem o mesmo formato (1º de maio e feriado prolongado), é errônea, pois obviamente o fluxo de pessoas da Semana Santa é maior que o do próximo 1º de maio, fato este que beneficia amplamente o comercio e a economia da cidade, haja vista que faturar-se-ia menos com o fluxo menor de pessoas (Posso até explicar o porque: muita gente vem de longe visitar a família na Semana Santa, assim considero bem difícil que tais pessoas voltariam a viajar poucas semanas depois. É CLARO QUE ESTA É APENAS UMA SUPOSIÇÃO, MAS ASSIM COMO TAMBÉM É A AFIRMAÇÃO DE QUE SERIA IGUAL CASO REALMENTE A DATA FOSSE ALTERADA).

Enfim, creio que uma provável solução seria a união da organização do festival com a Igreja, sem radicalismo nenhum de ambas as partes, no sentido de realizar ambos em conjunto, cedendo espaço conforme a necessidade do outro.

II – OS PREÇOS COBRADOS

Outro aspecto bastante discutido, criticado e elogiado. Frase mais comum: “As coisas tão muito caras”.

Sempre aprendi que “preço” é o quanto vale o produto e “valor” é o quanto estou disposto a pagar, traduzindo, se eu compro algo pelo valor que estão pedindo, quer dizer que estava disposto e tinha condições de fazê-lo.

Outro aspecto, observando pelo lado do comércio, é a valorização do próprio produto e o esforço para disponibilizá-lo de forma satisfatória para o cliente. É de senso comum que uma coisa “barata demais” nos deixa com aquela sensação de produto de baixa qualidade (não generalizando, óbvio). Assim, devemos observar os muitos “valores agregados” aos produtos para deixá-los num determinado valor, tais como, utensílios diferentes, variedades de opções, sofisticação dos pratos, singularidade da oferta (caso do Azeite, por exemplo que não existe de forma clara em nenhum outro lugar do Brasil), contratação pelo estabelecimento de mais funcionários para atender melhor, disponibilização de som ambiente para uma melhor satisfação do cliente.

Claramente, houveram certos exageros na precificação, mas pelo que pude perceber são fatos isolados e bastava procurar pra encontrar o mesmo produto num preço menor em outro estabelecimento ou mesmo pedir outro produto. Mas tudo isso não explica de maneira alguma certas afirmações do tipo: “ah, esse festival é só pros ricos”.

III – A PREFEITURA NO EVENTO

Claro que por não estar envolvido na organização, não posso dizer com precisão qual a medida exata da participação do Poder Público na totalidade do Festival, mas como todos resolvem dar opiniões (alguns sabendo algo e outros simplesmente para “descer a lenha”), também eu me sinto no direito de expressar o que acho.

Pude observar e SABER através de pessoas ENVOLVIDAS no Festival, que a Prefeitura atuou apenas na INFRAESTRUTURA do evento (tablados, seguranças, divulgação, algumas atrações musicais) ou seja, tudo dentro do que se espera dela. Inclusive as tendas ficaram sob a responsabilidade dos próprios comércios interessados em participar. Na minha opinião essa é sim função do poder público, “dar infraestrutura necessária para eventos que tenham condições de elevar o nome do município”. Em nenhum lugar, momento ou mesmo ação, pude enxergar erros neste sentido.

A crítica a este ponto, na minha visão, só pode residir no que foi gasto com essa infraestrutura, mas mesmo assim, ela é superficial, já que é público e notório que existem verbas disponíveis para este fim e isto é de poder da Prefeitura, cabendo a ela a necessidade de demonstrar.

IV – EMPRESAS ENVOLVIDAS

Desde sempre a crítica é a mesma: “essas coisas só beneficiam os comércios do centro, ninguém olha pro resto da cidade”.

Antes de explicar meu ponto de vista, gostaria de citar alguns nomes: Maria Lanches, Familia Serrano, Bar Rei do Frango, Familia Freitas, Neide e Fernando, Farma Oliva, Gente de Fibra, Familia Carnevalli, e os outros que me perdoem por não saber os nomes como a tenda que estava na praça de cima servindo caldos e a tenda de comida japonesa.

Essas pessoas e empresas, pelo que todos sabem, não têm seus estabelecimentos no “centro da cidade” ou “na rua do meio”, mesmo assim, estavam presentes no Festival, trabalhando e lucrando com ele. Isto me faz chegar a seguinte conclusão: “Se eles estavam lá participando, porque não os outros empresários não correram atrás de um espaço?” “Porque outras pessoas não decidiram se aventurar e abrir um negócio dentro do festival?”.

Ano passado, algumas desculpas para esse ponto de vista eram: “ah, não chamaram e não disseram que outros podiam participar” e “ah, meu comércio não tem condições financeiras de abrir em outro lugar da cidade”.

Bom, a primeira desculpa é, com o perdão da expressão, choro inapropriado mesmo, porque “quem quer corre atrás”, ou mesmo “se Maomé não vai à montanha e etc etc”. Já a segunda desculpa creio que seja pior ainda, já que é básico no mundo dos negócios que se você deseja lucrar alto, tem que investir na mesma proporção. O índice de sucesso é intimamente ligado ao índice de “coragem de correr riscos”. Óbvio que poderia não dar certo e o empresário sair no prejuízo com os gastos, porém, o festival deste ano demonstrou que há espaço para mais negócios e variedades de ofertas, bem como espaço para mais empresários lucrarem. Bastava simplesmente arriscar ao invés de colocar a culpa nos outros.

E finalmente, comércios do centro compram produtos de comércios de outros bairros, pessoas de outras ruas são contratadas para trabalharem no festival.

V – O TEMA DO FESTIVAL

“A Festa do Azeite”

Aqui dá pra ser conciso. A grande maioria dos marienses faz coro para exaltar a produção de azeite, assim como faz coro para afirmar que “a batata já era” ou que “a monocultura trouxe prejuízos para a cidade”. Sendo assim, é estranho que se discuta o porquê ser só o azeite mencionado, quando muitos dos próprios moradores se orgulham apenas dele atualmente. (ah, lembrei que antigamente, marienses que estudavam em Itajubá eram frequentemente chamados pelos colegas de “batateiros”, eu por exemplo, e muitos não gostavam disso, mesmo assim na hora de discutir o nome do festival reclamam de não falar de batata).

VI – O FESTIVAL EM SI

A percepção de um mariense que não estava envolvido diretamente no evento foi de uma cidade cheia durante 4 dias, todos os estabelecimentos com seus assentos esgotados e gente em pé esperando por um lugar, bebidas esgotadas tendo que ser novamente pedidas antes do sábado a noite, muitos marienses moradores da cidade elogiando e com orgulho sua cidade, muitos marienses moradores de outras cidades elogiando o evento e a chance de visitarem a cidade com algo pra fazer. Alem é claro dos turistas que em sua maioria gostaram do que presenciaram.

Opções amplamente variadas de comidas e bebidas e a maioria delas de extrema alta qualidade e pelo que pôde-se perceber convivendo bem entre si (afinal, num mesmo local, podia-se comer comida mineira, espanhola e japonesa, bastava escolher).

Atrações musicais interessantes para vários gostos, desde canto coral, e MPB, passando pelo Sertanejo, para isso, bastava andar pelo festival e sentar no estabelecimento que tinha seu gosto musical.

Destaca-se também que as brigas e confusões tão comuns nos eventos recentes em Maria da Fé, não aconteceram neste festival, ou pelo menos eu não vi.

Erros e defeitos ocorreram, mas acho que são totalmente contornáveis e corrigíveis para eventos futuros.

VII – PERCEPÇÃO PARA O FUTURO DO FESTIVAL

É notório que este festival traz mais benefícios do que prejuízos à cidade e acredito que ele tende a crescer a cada ano se bem organizado. Acho também que os próprios empresários poderiam a cada ano assumir mais a responsabilidade pela sua organização.

Claro que ele depende da administração pública, mas acredito também que qualquer que seja o resultado das próximas eleições, os prefeitos do futuro devem enxergar este evento como algo “da cidade” e não como algo “daquela administração”. Afinal, não é demérito nenhum manter algo que funciona mesmo não tendo sido “eu o pai da criança”.

Destacando mais uma vez que este autor e seus textos são alheios a qualquer sentimento político, alheios a qualquer sentimento pessoal com qualquer de seus participantes diretos ou não, alheios inclusive à ideologia amplamente presente neste blog.


Assim foi escrito.

Equa Tabula Rasa