quarta-feira, 10 de outubro de 2012

DA PRÁTICA DA POLÍTICA COMO "ARTE DE GUERRA"

UM DESABAFO

Eleições não são momentos de culminância do processo de democratização.
Só pessoas tolas podem acreditar nisso. 

São exemplos lamentáveis de aplicação da política como continuação da guerra por outros meios.

Como é que alguém, em plena sanidade psicológica, pode achar normal, natural e até admirável essa história de desconstrução de candidatos? 

A palavra "desconstrução" é um eufemismo para destruição mesmo. Então, dizem os comentaristas, sem atentar para o mal que estão espalhando, "fulano não teria crescido nas pesquisas sem 'desconstruir' beltrano".

Ora, nós, os humanos, não fomos feitos para isso (ou, em outras palavras, isso não é constitutivo do humano). Só alguém muito impregnado de ideologia necrófila pode achar que é assim mesmo, que nós somos inerentemente competitivos e outras falsificações grosseiras (a ciência não nos oferece qualquer justificativa para tais alegações).

Tudo isso foi absorvido pelo pensamento econômico que vivemos em uma guerra universal e permanente. 


É o estado natural do mundo social em virtude da natureza humana ser assim voltada para o conflito. E aí transformamos o reconhecimento do conflito em culto ao conflito.

Não sei como pessoas inteligentes podem admitir que a regulação da esfera pública - e a constituição de um sentido público - possa se dar a partir da guerra entre organizações privadas, cada qual querendo se apossar de um butim.
(conjunto de bens materiais e de escravos) ... Se o número de agentes do sistema fosse muito) seria possível conceber uma regulação não-equívoca emergente. 
Mas com um número de quadrilhas tão pequeno (sim, quadrilhas, bandos: os partidos são isso) não há como conceber essa mágica.

Se apenas 30 pessoas pagassem impostos, parece óbvio que não se poderia falar de uma receita pública. Se apenas 30 quadrilhas guerreiam entre si não há como imaginar que o resultado dessa dinâmica adversarial - que visa, precipuamente, a destruição do outro - possa gerar algum sentido público.

Sei, sei... liberais e estatistas não acreditam nessas coisas, nada cogitam sobre complexidade, sobre emergência, sobre a fenomenologia da interação e ficam lá fundeados nos seus preconceitos dos séculos passados e nas categorias impotentes para explicar a sociedade-em-rede.
...
Com toda humildade de que sou capaz, digo: a despeito do que avaliam que sejam os seus interesses (poder, fama, glória, fortuna), esses caras, antes de qualquer coisa, são burros mesmo. 

E cá estamos nós, condenados a viver ouvindo suas análises, análises de burros.

 (Augusto Franco).