sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre Planejamento e Administração Pública

De acordo com o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, planejamento é um “1. ato ou efeito de planejar. 2. Trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados. 3. Elaboração, por etapas, com bases técnicas (especialmente no campo socioeconômico), de planos e programas com objetivos bem definidos”.

Infelizmente, a nossa cultura, em geral, não contempla o planejamento como um e pré-requisito essencial para a realização das ações. Incluem-se entre os princípios de uma boa organização da vida em sociedade os planejamentos econômico, financeiro, familiar e profissional. O planejamento pessoal é um dos termos usados pelos administradores que mais me interessa do ponto de vista prático.

As pessoas tendem a pensar que planejar é algo que se destina àqueles que ganham bem ou que estão no controle de uma empresa (em geral, privada). Mas as boas práticas de organização sempre estão por trás do segredo de sucesso de alguns indivíduos que lidam com tarefas relativamente simples como cuidar de um rebanho ou organizar as finanças do lar. O problema é que nos ambientes acadêmicos tais procedimentos ganham nomes sofisticados como “práticas adequadas de manejo do rebanho” e “economia doméstica”.

A sistematização também é uma ferramenta importante. Seu conceito é um pouco diferente daquele do planejamento. Sistematizar é planejar as ações. Um bom exemplo é a sistematização do exame físico que o médico faz para avaliar o paciente. Ele ordena a seqüência daquilo que ele tem que fazer de uma forma tão organizada que não esquece de nada. Assim igualmente o faz o cirurgião e o confeiteiro. O início da industrialização, que foi possível principalmente por causa de alguém que pensou em produzir em série, também exemplifica como conceitos simples podem ser o alicerce de grandes revoluções.

Planejar e sistematizar têm utilidade inestimável na prática. Não é incomum vermos na televisão pessoas que ganham salário mínimo e alcançaram (por mérito próprio) o sonho da casa própria, o carro na garagem e o estudo dos filhos. Lembro-me de uma senhora cujas condições socioeconômicas eram bastante limitadas, mas que peregrinava pelos supermercados de sua cidade comparando preços. Por causa disso, e de outras boas condutas parecidas com essa, conseguiu poupar uma respeitável quantia em dinheiro.

As pessoas que resolvem adotar essa linha de pensamento e estilo de vida não se arrependem. Elas ficam livres de influências e flutuações políticas e econômicas, que são uma espécie e tradição nos pequenos municípios do nosso país. São pessoas que contribuem mais do que são ajudadas e fazem com que a estagnação social seja superada. Não dependem de tijolo, telha, areia, dentadura, carona e medicamentos dados pelos políticos (em prefiro usar o termo politiqueiros), não porque ganham o bastante, mas porque tomam as rédeas de suas próprias vidas.

É triste ver que em Maria da Fé representantes dos poderes Executivo e Legislativo sequer esboçam noções básicas acerca de planejamento. Não se trata de ter doutorado no tema, mas mesmo nas mais conceituadas escolas de Administração que possuem disciplinas de Administração Pública considera-se difícil formar um bom administrador na área, o que dirá dos prefeitos e vereadores que nem ao menos conhecem o tema. Portanto, não adianta preferir pensar que isso é coisa de gente “sistemática” ou mesmo penar que existem outros caminhos, porque eles não existem. Ou adota-se planejamento e sistematização da coisa pública ou fica-se exercendo uma administração com ações provisórias e legislando sobre banalidades.

Acho que seria razoável pensar em oferecer ensino em planejamento para os agricultores da nossa cidade (como financiar seus custos, investir em tecnologia, entender do mercado de seu produto, entender das linhas de crédito e como elas podem ser usadas de forma apropriada), para os comerciantes e para as pessoas em geral (com especial atenção para crianças e jovens). Mas considerando a história administrativa do nosso município eu não consigo identificar se houve um momento em que estivemos perto disso, nem mesmo vislumbro tal ocorrência num futuro próximo. Mas uma boa idéia seria começar com o ensino dessa “disciplina” aos nossos representantes.

Égua Astronauta